quarta-feira, 21 de julho de 2010

Como entender Cristo na Hóstia Consagrada

Em todo ser há um conjunto de coisas que podem mudar, como o tamanho, a cor, o peso, o sabor, etc., e um substrato-permanente que, conservando-se sempre o mesmo, caracteriza o ser, que não muda. Esse substrato é chamado substância, essência ou natureza do ser. Em qualquer pedaço de pão, há coisas mutáveis: a cor, tamanho, gosto, o sabor, a posição, sem que a subs¬tância que as sustenta mude; esta substância ninguém vê; mas é uma realidade. Assim, há homens de cores diferentes, feições diferentes, etc; mas todos possuem uma mesma substância: uma alma humana imortal, que se nota pelas suas faculdades que os animais não tem: inteligência, liberdade, vontade, consciência, psique, etc.

Quando as palavras da consagração são pronunciadas sobre o pão, a substância deste se muda ou converte totalmente em substância do corpo humano de Jesus (donde o nome "transubstanciação"), ficando, porém, os acidentes externos (aparências) do pão (gosto, cor, cheiro, sabor, tamanho, etc.); sendo assim, sem mudar de aparência, o pão consagrado já não é pão, mas é substancialmente o corpo de Cristo.

O mesmo se dá com o vinho; ao serem pronunciadas sobre ele as palavras da consa¬gração; sua substância se converte na do sangue do Senhor, pelo poder da intervenção da Onipotência divina.

Isto explica como o corpo de Cristo pode estar simultaneamente presente em diversas hóstias consagradas e em vários lugares ao mesmo tempo. Jesus não está presente na Eucaristia segundo as suas aparências, como o tamanho ou a localização no espaço. Uma vez que os fragmentos de pão se multiplicam com a sua localização própria no espaço, assim onde quer que haja um pedaço de pão consagrado, pode estar de fato o corpo eucarístico de Cristo.

Uma comparação: quando você olha para um espelho, aí você vê a imagem do seu rosto inteiro; se quebrá-lo em duas ou mais partes, a sua imagem não se quebrará com o espelho, mas continuará uma imagem inteira em cada pedaço.

É preciso, então, entender que a presença de Cristo eucarístico pode se multiplicar, sem que o Corpo de Cristo se multiplique. Isto faz que a presença do Cristo eucarístico se possa multiplicar (sem que o corpo de Cristo se multiplique), se forem multiplicados os fragmentos de pão consagrados nos mais diversos lugares da Terra. Não há bilocação nem multilocação do corpo de Cristo.

O corpo de Cristo sob os acidentes do pão não tem extensão nem quantidade próprias; assim não se pode dizer que a tal fragmento da hóstia corresponda tal parte do corpo de Cristo. Quando o pão consagrado é partido, só se parte a quantidade do pão, não o corpo de Jesus.

Assim muitas hóstias e muitos fragmentos de hóstia não constitu¬em muitos Cristos - o que seria absurdo , mas muitas "presenças" de um só e mesmo Cristo. Analogamente a multiplicação dos espelhos não multiplica o objeto original, mas multiplica a presença desse objeto; também a multiplicação dos ouvintes de uma sinfonia não multiplica essa sinfonia, mas apenas a presença da mesma.

Por essas razões, quando se deteriora o pão eucarístico por efeito do tempo, da digestão, ou de um outro agente corruptor, o que se estraga são apenas os acidentes do pão: quantidade, cor, figura... , e neste caso o corpo de Cristo deixa de estar presente sob os véus eucarísticos; isto porque Cristo quis que nas espécies ou nas aparências de pão e vinho, que Cristo quis garantir a sua presença sacra¬mental, e não nas de algum outro corpo.

A fé católica ensina uma conversão total e absoluta da substância do pão na do corpo de Cristo; o Concílio de Trento rejeitou a doutrina de Lutero, que admitia a “empanação” de Cristo: empanação, segundo a qual permaneceriam a substância do pão e a do vinho junto com a do corpo e a do sangue de Cristo; o pão continuaria a ser real¬mente pão (e não apenas segundo as aparências), o vinho continuaria a ser realmente vinho (e não apenas segundo as aparências), de tal sorte que o corpo de Cristo estaria como que “revestido” de pão e vinho. Para o Concílio de Trento e, para a fé católica, esse tipo de presença de Cristo na Eucaristia é insuficiente; é preciso dizer que o pão e o vinho, em sua realidade íntima (substância), deixam de ser pão e vinho para se tornar a realidade mesma do corpo e do sangue de Cristo.

Assim como na criação acontece o surgimento de todo o ser, também na Eucaristia há a conversão de todo o ser. Esta “conversão de todo o ser” é “conversão de toda a substância” ou “transubstanciação”.

Assim como só Deus pode criar (tirar um ser do nada), só Deus pode “transubstanciar”; ambas as atividade supõem um poder infinito que só Deus tem.

Para entender um pouco melhor o milagre da Transubstanciação podemos dizer ainda o seguinte: No milagre da multiplicação dos pães, Jesus mudou apenas a espécie do pão (no caso a quantidade), mas não mudou a sua natureza, continuou sendo pão. Quando Ele fez o milagre das Bodas de Caná, mudou a natureza da água (passou a ser vinho) e mudou também a sua espécie (cor, sabor, etc); no milagre da Transubstanciação, Jesus muda apenas a natureza do pão e do vinho (passam a ser seu Corpo e Sangue) sem mudar a espécie (cor, sabor,cheiro, tamanho, etc.)

Tudo por amor a nós; Ele, o Rei do universo, se faz pequeno, humilde, indefeso... nas espécies sagradas do pão e do vinho, para ser nosso alimento, companheiro, modelo, exemplo, força, consolação...

Por Prof. Felipe Aquino

Data Publicação: 05/12/2006